* Por Isabella Politano Maciel Gimenes – Psicóloga e psicoterapeuta sistêmica individual, de casal e familiar.
Existem várias definições para o estresse, mas, dentro de uma visão biopsicossocial, podemos entendê-lo como a maneira como o indivíduo responde a circunstâncias percebidas como ameaçadoras (reais ou imaginárias), que colocam em risco a sua saúde física e/ou emocional, exigindo-lhe mais habilidades ou recursos do que dispõe naquele momento (Rodrigues, 1997).
Os “estressores” (fatores que causam o estresse) podem estar dentro de nós (autocobranças, pressa, sentimentos, crenças e emoções, como medo, raiva, ciúmes) ou fora, no ambiente, como no trabalho, nas relações interpessoais, no trânsito. Situações novas, ainda que positivas, também são geradoras de estresse, uma vez que exigem novas respostas, geram expectativas. É o caso de uma promoção, uma viagem ou um relacionamento novo.
A influência desses estímulos não é a mesma para todos, nem nos atinge da mesma forma em diferentes momentos da vida. Um recém-nascido, por exemplo, apesar de exigir muito do físico e do emocional de uma mãe, pode representar uma fonte maior ou menor de estresse para diversas mulheres, assim como sobrecarregar em graus variados a mesma mulher em gestações diferentes. Isso porque são inúmeras as variáveis que desencadeiam o estresse, que vão de características pessoais, experiências anteriores e circunstâncias como intensidade, frequência e acúmulo dos estímulos. O potencial de estresse existente em uma dada situação, portanto, depende dela em si, mas também da maneira como lidamos com ela.
O trabalho ocupa grande parte do nosso cotidiano e, para muitos, representa uma das maiores fontes de estresse, uma vez que a necessidade de sobrevivência leva as pessoas a atividades desmotivadoras e, por vezes, até desumanas. Pressões e cobranças exacerbadas para o cumprimento de prazos e a busca por altos padrões de qualidade, superiores às condições pessoais são alguns dos estressores laborais. Estes, se aliados à falta de reconhecimento e satisfação profissional, ou ao assédio moral, tornam-se potencialmente geradores de doenças ocupacionais. As jornadas extenuantes, acumuladas com as demandas do dia a dia de casa, filhos e contas a pagar levam indivíduos a protelarem ou excluírem de suas vidas outras fontes necessárias de sobrevivência e de prazer, como os afetos, as relações pessoais, familiares e sociais.
Identificar em nós próprios, em nossas rotinas pessoais e profissionais, o que nos sobrecarrega e aflige é o ponto de partida. Algum nível de estresse parece ser útil e até necessário. Basta pensar nas estratégias de sobrevivência que nossos antepassados precisaram desenvolver para lidar com os sobressaltos de uma vida na selva ou, nos tempos atuais, para nos movermos em segurança nos grandes centros urbanos, permeados por violência, trânsito enlouquecido e metas profissionais crescentes.
Entretanto, o excesso de estresse maltrata e pode se manifestar por meio de sinais como aumento da ansiedade, depressão, insônia, transtornos alimentares, hipertensão, mudanças de humor, distúrbios de memória ou comportamentais. Esses sintomas denunciam que algo não vai bem e, se não respeitados, tendem a crescer e podem se tornar crônicos, nos fazendo adoecer mais seriamente, já que sua função não foi respeitada: a de nos fazer parar, olhar para dentro e para a nossa vida, sinalizando a necessidade de mudança: de crenças, de padrões relacionais, de postura diante do trabalho ou do que se fizer necessário.
Esse alerta pode significar a necessidade de melhor administrar e dimensionar o tempo, rever as prioridades, incluir um programa de saúde física e emocional, um maior (ou algum) autocuidado. Repensar as relações pessoais e padrões familiares, buscar mais prazer, através dos esportes, da música, da dança, de novos aprendizados – como uma nova língua ou instrumento musical- podem ajudar a lidar com o cotidiano.
Práticas de respiração e meditação costumam ajudar a conter a ansiedade e os pensamentos recorrentes, uma vez que trazem a mente para o corpo, para o presente. A psicoterapia, entretanto, estimula a reflexão, o autoconhecimento, a identificação de padrões mentais ou comportamentais pouco funcionais, assim como rotinas geradoras de estresse, convidando o indivíduo a um mergulho em si mesmo, a um compromisso com seu bem estar, condições fundamentais para o crescimento.
Reconhecer e respeitar nossas necessidades vitais, equacionar, distribuir melhor o tempo e as rotinas, planejando atividades, priorizando ações, evitando e nos desviando de situações desnecessárias, negociando outras e nos instrumentalizando para o enfrentamento daquelas das quais não podemos nos esquivar, são algumas das principais ações no combate ao estresse.
Empenho maior, entretanto, exigem os “estressores” internos, frutos de nossa personalidade, experiências e expectativas pessoais, familiares e sociais. Mudar a maneira como olhamos e lidamos com pessoas e situações, vai além de receitas e ações isoladas. Exige abertura, comprometimento, autoreflexão e esforço…muito esforço. Mas vale a pena…